quarta-feira, 22 de maio de 2013

Desopilativo nosso de cada dia

  Quanto mais eu leio, menos eu consigo escrever, talvez a ignorância me coubesse melhor. Eu deveria seguir o velho conselho de desapegar do conhecimento em prol da paz advinda da submissão cotidiana, felicidade unidimensional, ou seja lá a expressão que substitua a boa e velha “a ignorância é uma benção.”
  Não falo aqui de ler “os clássicos”, até pq meus clássicos nem sempre são os seus, ou os dos meus pais, ou dos seus, ou não. Falo de tudo em qualquer tempo, de ficções à biografias (e suas doses de ficção, mesmo que homeopáticas) passando por metafísicas, historiaduras, e até os infinitos textos de internet. Não há conteúdo escrito que escape à essa carga opressora.
  Aliás, os textos internet são os maiores predadores nessa cadeia discursiva. Essa merda que deu voz a milhões de indivíduos que se engasgavam diariamente com suas idéias e pensamentos sufocados pela ausência de ambientes onde compartilhá-las e desenvolvê-las, acaba por esgotar minha capacidade imprimir idéias. Meu maior erro talvez seja processar famelicamente quase tudo que desperta minha atenção, o que é quase tudo que meus olhos encaram. Qual o sentido de dizer o mesmo que já foi dito antes, só que por mim adjetivado com termos rasteiros e um monte de palavrões e neologismos nos quais, algumas vezes, nem eu vejo sentido?
  Passei um tempo recorrendo à internet pra cuspir meus marimbondos e debelar minhasengasgações, mas aí a curiosidade (necessidade?) te impele a cavar outros espaços de compartilhamento de opiniões na vírtua, esbarrando com tudo o que você disse, só que dito de forma mais eloqüente, objetiva e completa do que você escreveu. Aqui um parênteses para dizer que nesse sentido o Twitter se mostrou uma retro-escavadeira, pelo menos eu o uso dessa forma.
  Então, você que se achava interessante com meia dúzia de desconhecidos salteando suas costas com tapinhas pueris, se descobre apenas um fóton em fim de percurso, condenado à incessante descoberta de sua insignificância. Na verdade, apenas saindo da inerte negação, mas “incessante descoberta” é menos esculacho, talvez.
  O mesmo rolou com o violão, comecei a ter aulas de violão na mesma época que o Dadinho, meu irmão mais velho. Depois de muito lutar (ou nem tanto assim) pra ao menos coordenar as mãos, a torturante visão do meu irmão desenvolvendo seu talento pra coisa decretou o exílio das minhas cordas.
  É nesse contexto que você tem que realinhar seus pensamentos e tentar descobrir qual contribuição você pode dar pra recrudescer esse imenso caos ideológico fagocitado pelo senso comum. No meu caso, circular por dezenas de blogs atrás de bons textos e eventualmente comentar sobre eles, passou a ser o substitutivo do blog.
  Mas somos todos teimosos quanto à nossas ilusões sobre nós mesmos, por isso resolvi desapegar daquele blog e revolucionariamente começar outro blog. Outro recorte do que eu vejo como realidade, não muito longe daquele, provavelmente uma nova plataforma para os mesmos erros.
  O mesmo aconteceu com meu violão, em algum momento do recrudescimento da minha barba a necessidade de exercitar a música foi mais forte do que minha autocrítica, e eu voltei a esmurrá-lo e seviciá-lo como se não houvesse segundas-feiras, mas tão somente no sepulcro da minha casa de paredes surdas (e mudas, espero).
  Então, esse texto, emergido da necessidade de escrever em voz alta pra avaliar o grau de imbecilidade das minhas idéias, se tornou apresentação desse blog. Daí foi só misturar essa necessidade ao proto-narcisismo nosso de cada dia pra ter a sensação de estar saciando meu tesão discursivo.
  E assim como o vômito é recurso essencial do sistema digestivo, inauguro esse velho espaço tão caro à minha despressurização, mirando a insignificância, pois, já existem relevâncias demais nessa vida.

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